Outro excelente Post do Rev. Beraldo
concordo em gênero, numero e grau.

Se voltássemos ao ano de 2006, poderíamos acompanhar uma de minhas aulas no SENAI. Carteiras enfileiradas; janelas de ferro à esquerda que davam para o pátio, e uma grande janela de vidro à direita, transformando a sala num gigante aquário de alunos para quem quer que passasse nos corredores.

Era época de eleição, o assunto surgiu e o professor falava que nunca deveríamos ficar em cima do muro. Tínhamos, sempre, de tomar uma decisão, mesmo que não tivéssemos uma opinião formada sobre o assunto (se houvesse tal coisa como “opinião formada”, para começo de conversa, seríamos seres previsíveis — robôs, não seres humanos). Dizia que não deveríamos, portanto, votar nulo, ou branco, porque isso é se eximir de suas obrigações.

Novamente estamos em época de eleição. E eu, que agora sou obrigado a votar, continuo, inflexivelmente, a querer votar nulo.

Demagogia Democracia

Eleições são, segundo a Globo, ou qualquer outro órgão de propaganda, a “festa da democracia”. Candidatos apresentam suas propostas no Horário Eleitoral; eleitores assistem, comparam, votam. Um processo extremamente simples e acessível.

Uma falácia se camufla no discurso acima. Para identificarmos-na, temos de voltar ao tempo em que as maiorias não votavam. A burguesia acreditava que, ao dar o poder de voto à população, estariam automaticamente colocando em perigo sua supremacia. Sufrágio atrás de sufrágio — as chamadas “vitórias” pelos comunistas — provaram que essa concepção era falha.

Ao mesmo tempo, as técnicas de propaganda evoluíram. Dominaram-se a arte do convencimento das massas, que em verdade é bastante trivial: martele, martele, martele, — o convencimento é garantido — entre outras sutilezas.

Isso significa que apenas aquele que pode fazer propaganda vencerá. Interessantemente, aqueles partidos políticos com mais representantes eleitos têm mais tempo para suas propagandas. Mas como conseguiram mais representantes eleitos?, pode pensar o leitor. Não foi um processo democrático, em absoluto; foi, em verdade, a propaganda anterior. Quem tem dinheiro faz uma propaganda melhor. Compare a qualidade das propagandas do PT e PSDB com a de qualquer partido menor — digamos, PSOL. Quanto maior o partido, mais militantes, mais atenção, mais tempo para os comerciais, mais dinheiro para eles.

Democracia não existe. O que existe é a demagogia, o discurso bem feito, as falácias argumentativas: tudo criando uma impressão de possibilidades.

Binário, mas igual

Existem, já de começo, portanto, apenas dois partidos que tomarão a presidência: PT ou PSDB. Muitas pessoas podem achar importante quem será eleito. A verdade é que não faz diferença alguma.

Em primeiríssimo lugar, há de se convencionar que, quando um partido político se torna poderoso, se torna também um clubinho. Isso é invariável, é humano. Só são presidenciáveis, ao menos em partidos que realmente disputam as eleições e não brincam de política, pessoas escolhidas a dedo, trabalhadas por anos a fio, e representantes da minoria que os aprovou.

Em segundo lugar, não existe tal coisa como “proposta política”. Nesse ponto preciso me explicar: os Provos, quando sugeriram que se banissem os carros no centro de Amsterdã, o que causaria um série de melhorias, tinham uma proposta política.

Políticos, por outro lado, tem “propostas genéricas”. “Melhorar a saúde, a educação”: eis algo completamente inútil de se dizer. Uma proposta política diz como: de onde vem o dinheiro para se melhorar a saúde, por exemplo? Notem que essas respostas são sempre vagas, evasivas.

Existem, portanto, dois partidos que realmente concorrem: PT e PSDB. Um deles tomará a presidência, e a maioria dos outros cargos de importância. A diferença que isso fará é, em termos prático, nula. O poder está nas empresas que realmente têm dinheiro.

Ingenuidade e perda de tempo

Pessoas há, porém, que acreditam que política muda alguma coisa. Elas conseguem manter o preço do ônibus o mesmo por um ano, chamam isso de “vitória”. Aos seus piquetes, falatório sem fim e passeatas que, contraditoriamente, chamam de “atos”, a tudo isso chamam “luta”. Em todo o país, e espalhados pelo mundo, essas pessoas vivem a ilusão de que, em seu legalismo, podem fazer alguma coisa.

Irritam-se, estressam-se, indignam-se frente à violência da política. Ainda não entenderam que a política é um órgão repressor, representante do Estado. E o Estado, com seu monopólio sobre o direito de matar, guerrear e enclausurar, é mantido funcionando pelo mesmo ativismo dessas pessoas. Porque são elas a válvula de escape da falta de poder da população: sentem o gostinho de tomar uma decisão qualquer e depois dizem que “a luta é dura”. Fazem congressos onde discutem a troco de nada. A maioria é jovem, porque desistem de “lutar” quando arrumam um emprego que precisam manter.

Ainda não sacaram que é tudo um jogo onde existem apenas duas decisões: cooperar ou não. Eles cooperam. Sejam seus discursos contra o Estado ou a favor de um partido qualquer, cooperam.

E, por sua vez, o que é não cooperar? Bastante simples: usar-se dos mesmos métodos que usou a burguesia para se levantar frente aos nobres. Enquanto houver o discurso da moral, do legalismo, que é sustentado pelo Estado de maneira a manter as revoltas ao mínimo, e enquanto esse discurso for acatado, a “não violência” chegará exatamente ao ponto designado a ela: o nada.

A saída

Como derrubar um Estado? Como transformar o mundo naquilo que você acha certo? A única resposta é: fazendo. É impossível, devido à quantidade absurda de leis e burocracias, melhorar a “educação”. Eduque, ao invés de perder seu tempo em passeatas absolutamente chatas. E não estou dizendo para virar professor, porque essa é a pior profissão do mundo. Não; simplesmente ensine as pessoas aquilo que você sabe.

Deseja um país melhor? Declare sua independência.

Deseja ser livre? Monte um navio e navegue pela imensidão do mar, áreas livres que não estão sob a jurisdição de qualquer país ou impostos. A pirataria como movimento histórico, que é só criminoso por uma definição unilateral, é o símbolo máximo da liberdade do homem. São países flutuantes; e países sempre têm a livre escolha de começar guerras ou não.

Sobre todas essas matérias, recomendo a leitura de Caos, do Hakim Bey.

Nulo

Votar nulo é cooperar, porque aquilo que não combate sustenta o poder. Mas ao menos não estou enganando ninguém: nem a mim, nem aos meus iguais. Quanto isso ser alienação ou não, prefiro nem discutir. Já perdi muito tempo aqui; não vou nem revisar tudo isso.

Fonte: http://www.cabaladada.org/2010/05/votando-nulo/

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encontrei esse video no youtube.. hehe

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NÃO SUSTENTE PARASITAS, VOTE NULO!

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8 Comentários

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  1. Voto Nulo já faz um bom tempo. Sempre q nao me identifico com nenhum candidato (e é o q normalmente ocorre), voto nulo. Quem disse q temos q votar em quem nao queremos? Eu anulo e pronto. É culpa do presidente atual ? Blz. Mas não fui eu que o coloquei lá.
    Se mais pessoas pensassem assim… acho q teriamos 50% + 1 de votos nulos… heheh

    • @TiagoMazzon
      falae Tiago tudo bom?
      descobri algo recente q me deixou desanimado.
      a legislação “mudou”, 50%+1 dos votos não invalida uma eleição inteira.
      mesmo q o mundo fosse um lugar melhor e tivesse 97% de nulos, 2% do candidato A e 1% do candidato B . o candidato A seria o eleito.

      triste. mas real..

  2. seguindo essa lógica, seria mais inteligente votar na no pv, psol, mesmo que vc não concorde, queira, ou veja diferença que eles ganhem uma eleição

    • olá ser de nome inominavel.

      indo assim estou votando no menos pior.
      não quero votar em ninguém e ponto. rs
      acredito no estado anarquico.
      nao o anarquismo adolescente sem causa.
      mas aquele onde cada um sabe o que quer de si sem ferir aos outros.

      • ok, mas o foda é que votar nulo simplesmente é, políticamente, não votar. O voto simplesmente não serve de nada, desaparece, é negar uma pequenissima oportunidade em troca de um protesto mudo. Se o caso é não votar por birra, até entendendo, mas ainda assim, acho que votar vale o esforço. Eu vou votar num candidato menor exatamente por isso, quanto mais voto pra esses alternativos, mais mostra pra população que a gente pode mudar e incentiva o resto a ser mais ativo em vez de se auto-excluir.

        Talvez o que eu queira seja mais utopico do que o anarquismo, mas acho que vale a pena tentar, não me dói ainda.

  3. segue o tao-te-ching capítulo 57:

    CAPÍTULO 57
    Se você quer ser um grande líder,
    deve aprender a seguir o Tao.
    Pare de tentar controlar.
    Desista dos planos e conceitos rígidos
    e o mundo governará a si mesmo.

    Quanto mais proibições vocês têm,
    menos virtuoso será o povo.
    Quanto mais armas vocês tiverem,
    menos seguro será o povo.
    Quanto mais subsídios vocês têm,
    menos auto suficiente será o povo.

    Por isso o sábio diz:
    Eu desisti da lei
    e o povo se tornou honesto.
    Eu desisti da economia
    e o povo se tornou próspero.
    Eu desisti da religião
    e o povo se tornou sereno.
    Eu desisti de todo o desejo pelo bem comum
    e o bem tornou-se comum como o mato.

    fonte: http://otaoteching.blogspot.com/2009/07/capitulo-57.html