– Ó reais guerreiros, e também vós, gentis senhoras, cuja beleza ilumina o universo! – começou o calormano. – Sabei que sou Emeth, o sétimo filho de Harpha Tarcaã, da cidade de Tashbaan, situada no Ocidente, além do deserto. Cheguei a Nárnia recentemente, junto com nove e mais outros vinte calormanos, comandados por Rishda Tarcaã. Assim que soube que deveríamos marchar contra Nárnia, enchi-me de regozijo, pois já ouvira falar muitas coisas sobre a vossa terra e grande era o meu desejo de encontrar-vos em batalha. Mas quando descobri que deveríamos ir disfarçados de mercadores (o que é um vergonhoso traje para um guerreiro e filho de tarcaã) e agir usando mentiras e artifícios, então todo o gozo me abandonou. O pior foi quando descobri que estaríamos a serviço de um macaco. E quando começaram a dizer que Tash e Aslam eram um só, então o mundo se escureceu aos meus olhos, pois desde criança eu servira a Tash, e meu grande desejo era saber mais sobre ele, se possível encontrá-lo face a face. O nome de Aslam, porém, era detestável aos meus ouvidos.
– Então, como vistes, noite após noite éramos todos convocados a reunir-nos do lado de fora daquela cabana de palha, e acendia-se a fogueira, e o macaco tirava da cabana uma coisa de quatro pernas que eu nunca conseguia ver direito. Aí todos, inclusive os animais, inclinavam-se e prestavam homenagem àquilo. Eu, porém, pensava: “O tarcaã está sendo ludibriado pelo macaco, pois aquela coisa que sai do estábulo não é Tash nem deus algum.” Mas quando, certa vez, olhei para o rosto do tarcaã, prestando atenção a cada palavra que ele dizia ao macaco, mudei de idéia, pois percebi claramente que nem ele próprio acreditava em tudo aquilo. Foi então que compreendi que ele não acreditava em Tash, pois, do contrário, como ousaria escarnecer dele?
– Quando me dei conta disso, fui tomado de uma fúria imensa e me perguntei por que o verdadeiro Tash não mandava cair fogo do céu para destruir tanto o macaco quanto o tarcaã. No entanto, escondi minha ira, controlei minha língua e resolvi esperar para ver como tudo acabaria. Na noite passada, porém, como alguns de vós devem saber, o macaco, em vez de exibir aquela coisa amarela, disse que todos que quisessem ver Tashlam (pois, a essa altura, eles já haviam juntado os dois nomes para fingir que os dois eram um só) deveriam entrar um a um na palhoça. Então disse para mim mesmo: “Sem dúvida alguma, aí vem uma nova decepção.” Mas depois que o gato entrou na cabana e saiu apavorado, pensei: “Com certeza o verdadeiro Tash, a quem chamaram sem conhecer nem acreditar, veio para o meio de nós e agora vai se vingar.” Embora, dentro de mim, meu coração estivesse derretido de temor perante a grandeza de Tash, ainda assim o desejo de vê-lo era mais forte. Então, com um esforço tremendo para não deixar que meus joelhos tremessem ou que meus dentes batessem, decidi encarar Tash face a face, mesmo que ele me matasse. Assim, ofereci-me para entrar no estábulo. E o tarcaã, mesmo contra a vontade, me permitiu entrar.
– Assim que passei por aquela porta, minha primeira surpresa foi que me encontrei no meio dessa grande claridade, ainda que, visto do lado de fora, o interior da cabana parecesse completamente escuro. Nem tive tempo de maravilhar-me com isso, pois no mesmo instante me vi forçado a lutar contra um dos nossos próprios homens para defender a minha vida. Assim que o vi, percebi que o macaco e o tarcaã o haviam colocado ali para matar qualquer um que entrasse e que não estivesse a par de seus planos. Esse homem, portanto, devia ser um outro mentiroso, um trapaceiro, e não um verdadeiro servo de Tash. Por isso eu o enfrentei com o maior prazer. E, após matar o vilão, atirei-o para trás de mim, porta afora.
– Depois olhei à minha volta e vi o céu e toda esta amplidão e aspirei o aroma da terra. Então disse: “Por todos os deuses, que lugar agradável! Devo ter chegado ao país de Tash.” E comecei a percorrer esta estranha terra, procurando por ele.
– Passei por muita grama e muitas flores e encontrei saudáveis e deleitosas árvores de todos os tipos, até que, em um lugarzinho estreito entre dois rochedos, avistei vindo ao meu encontro um enorme Leão. Tinha a velocidade do avestruz e o tamanho do elefante; sua cabeleira era como ouro puro e o brilho de seu olhar como ouro quando arde na fornalha. Era mais temível que a Montanha Ardente de Lagur, e sua beleza superava tudo que há no mundo, mesmo a rosa em botão cuja beleza supera a areia do deserto. Então prostrei-me aos seus pés, pensando: “Esta é certamente a hora da minha morte, pois o Leão (que é digno de toda a honra) bem saberá que, durante toda a minha vida, tenho servido a Tash e não a ele. No entanto, melhor é ver o Leão e depois morrer do que ser Tisroc do mundo inteiro e viver sem nunca havê-lo encontrado.” Porém, o glorioso ser inclinou a cabeça dourada e me tocou a testa com a língua, dizendo: “Filho, sê bem- vindo!” Mas eu repliquei: “Ai de mim, Senhor! Não sou filho teu, mas, sim, um servo de Tash!” “Criança”, continuou ele, “todo o serviço que tens prestado a Tash, eu o considero como serviço prestado a mim.” Então, tão grande era o meu anseio por sabedoria e conhecimento, que venci o temor e resolvi indagar o glorioso ser: “Senhor, é verdade, então, como disse o macaco, que tu e Tash sois um só?” O Leão deu um rugido tão forte que a terra tremeu (sua ira, porém, não era contra mim), dizendo: “É mentira! Não porque ele e eu sejamos um, mas por sermos o oposto um do outro é que tomo para mim os serviços que tens prestado a ele. Pois eu e ele somos tão diferentes, que nenhum serviço que seja vil pode ser prestado a mim, e nada que não seja vil pode ser feito para ele. Portanto, se qualquer homem jurar em nome de Tash e guardar o juramento por amor a sua palavra, na verdade jurou em meu nome, mesmo sem saber, e eu é que o recompensarei. E se algum homem cometer alguma crueldade em meu nome, então, embora tenha pronunciado o nome de Aslam, é a Tash que está servindo, e é Tash quem aceita suas obras. Compreendes isto, filho meu?” Eu respondi: “Senhor, tu sabes o quanto eu compreendo.” E, constrangido pela verdade, acrescentei: “Mesmo assim, tenho aspirado por Tash todos os dias da minha vida.” “Amado”, falou o glorioso ser, “não fora o teu anseio por mim, não terias aspirado tão intensamente, nem por tanto tempo. Pois todos encontram o que realmente procuram.”
[…]
Crônicas de Nárnia – A ultima Batalha – C.S. Lewis.
Aham.. histórinha de criancinhas….sei sei… 😉
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3 Comentários
Isso é que eu chamo de sincronicidade! Acabei de ler as Crônicas sábado passado e não me sai da cabeça a semelhança dos ensinamentos de Aslam com as palavras de um certo Nazareno famoso…
Três vivas a Aslam! o/
Meus caros amigo Randell você está no caminho certo. Continue buscando-O e estou certo que O conhecerá. Faça como na música THE CALL: chame por Ele – a história não terminou, apenas começou…Para quem quiser se aventurar vai aí uma sugestão: [link removido]